Encontrada sétima piroga monóxila no Rio Lima, em S. Simão

Janeiro 31, 2023
Encontrada sétima piroga monóxila no Rio Lima, em S. Simão

Foi encontrada uma sétima piroga monóxila no Rio Lima, em Viana do Castelo, no areal do camalhão de S. Simão. A piroga foi encontrada na sexta-feira pelo Presidente da Junta da União de Freguesias de Mazarefes e Vila Fria e, após contacto com o Gabinete de Arqueologia da Câmara Municipal de Viana do Castelo, realizaram-se os procedimentos necessários ao resgate da embarcação, que aconteceu no sábado e envolveu uma equipa dos Bombeiros Sapadores, acompanhados pelos técnicos de arqueologia da autarquia.

Foi realizado o registo da embarcação e dos elementos que se encontravam dispersos pelo areal. Construiu-se uma estrutura rígida que, com a canoa já em cima, foi posta a flutuar com o auxílio de boias, tendo a embarcação sido rebocada até à marina da cidade, onde se encontra a aguardar recolha.

O Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática (CNANS) foi informado do achado e deverá prestar o apoio técnico para transferência da embarcação para um tanque.

Esta é a sétima piroga que aparece no Rio Lima, em Viana do Castelo, sendo que as seis conhecidas foram classificadas pelo DL n.º 11/21 do Diário da República n.º 109/2021, Série I de 2021-06-07 como Conjunto de Interesse Nacional, com a designação de Tesouro Nacional.

As pirogas monóxilas são embarcações feitas a partir de um tronco de árvore, escavado para o efeito. Este tipo de embarcação é conhecido, na Europa, desde a pré-história, mais precisamente desde o neolítico.

No caso das embarcações, encontradas em território português, as mais antigas serão mesmo as «piroga n.º 4» e a «piroga n.º 5», datadas por carbono 14, dos séculos IV/ III a.C.. Datam, assim, da plena Idade do Ferro também conhecida entre nós por “período castrejo”.

Para além de estas embarcações, com mais de dois mil anos, temos que contar ainda com outras de épocas mais recentes, nomeadamente do Período da Reconquista (séc. VIII e IX) – «pirogas 2 e 3»-, sendo que a mais tardia é a «piroga n.º 1» datáveis da plena Idade Média- séc. XI.

Por serem embarcações construídas através de uma tecnologia muito particular e, por terem sido utilizadas por tão longo período de tempo, no Rio Lima, estas merecem um grande relevo e assumem uma enorme importância para a comunidade científica portuguesa e internacional. Em Portugal, são mesmo as mais antigas embarcações conhecidas das quais temos registo físico, uma vez que haverá representações gráficas mais antigas, nomeadamente através de insculturas rupestres, de que é exemplo a Lage da Churra, em Carreço.

De acordo com a legislação portuguesa, a entidade que tutela os achados arqueológicos em meio aquático, e como tal responsável pelo seu estudo e preservação, é a DGPC, através do CNANS (Centro Nacional de Arqueologia Náutica e Subaquática). Esta entidade está vocacionada para os achados em meio aquático que, como tal, para além de ter colaborado na recuperação das pirogas monóxilas do concelho de Viana do Castelo, procedeu ao seu transporte e, ainda hoje, procede ao tratamento das mesmas para que um dia mais tarde seja possível a sua exposição em seco, sem que os materiais se degradem de forma irreparável.