Inseto ajuda Viana do Castelo a manter-se livre de espécies invasoras

Março 21, 2021
Inseto ajuda Viana do Castelo a manter-se livre de espécies invasoras

Um inseto de tamanho milimétrico é um dos “grandes” ajudantes de Viana do Castelo na erradicação de espécies invasoras nos seus 13 monumentos naturais, que dentro de uma década a Câmara quer ver classificados como Santuários de Natureza e Cultura.

O inseto chama-se Trichilogaster acaciaelongifoliae, tem apenas cerca de dois a três milímetros, mas não dá tréguas às acácias, uma das espécies exóticas com comportamento invasor existente nos 90 hectares que compõem o património geológico os 13 Monumentos Naturais da capital do Alto Minho.

“É oriundo da Austrália, tal como a acácia, uma das principais espécies invasores do concelho e do país”, referiu o vereador do Ambiente.

Desde 2020, do total daquela área, a Câmara de Viana do Castelo iniciou a erradicação de invasoras e a reflorestação de cinco daqueles monumentos, num investimento de mais de 500 mil euros, financiado pelo Programa Operacional Sustentabilidade e Eficiência no Uso de Recursos (POSEUR).

A recuperação ecológica avançou no Cemitério de Praias Antigas do Alcantilado de Montedor, nos Pavimentos Graníticos da Gatenha, Cascatas da Ferida Má, Falha das Ínsuas do Lima, e Praia Eemiana da Ribeira de Anha.

Numa visita guiada à freguesia de Carreço, para ver a limpeza dos 55 hectares do monumento natural de Montedor, Ricardo Carvalhido mostrou à Lusa a “manutenção” que o inseto microscópico, introduzido em Portugal, pela primeira vez, em 2015, tem ajudado a garantir.

“Esse inseto preda a acácia”, especificou.

O inseto tem um ciclo de vida de um ano, formando umas “galhas” ou “bugalhos” nos ramos da acácia longifólia, que impedem a sua floração e, consequentemente, a formação de sementes.

A existência dessas “galhas”, pequenas bolas verdes, foi confirmada em várias localizações.

“A acácia é ferida precisamente no local que é responsável pela reprodução. A flor já não vai surgir na acácia, e com isso vamos reduzir ativamente o banco de sementes que, por metro quadrado, podem ser milhares, prontas para rebentar novas acácias”, explicou o biólogo.

Posteriormente avançou a reflorestação com “espécies nativas” (carvalho, medronheiro, sobro), já em curso não só em Montedor, mas também na Ribeira de Anha e Ferida Má.

A “vigilância” das plantações é “apadrinhada” por empresas do concelho, atualmente 25, que se “responsabilizam por controlar” o crescimento das espécies autóctones e “impedir” o regresso das invasoras.

“O objetivo principal é pegar nestes espaços e torná-los santuários da natureza e da cultura. Naturalmente quando falamos de arqueossítios, a cultura está intrínseca, mas em as zonas especiais de conservação para a biodiversidade e de monumento natural também muitas vezes, têm valores culturais, que é importante preservar”, especificou.

“Nessa altura, garantimos que quem visitar cada um destes espaços está a entrar num santuário, tal e qual como era há milhares de anos, antes do ser humano ter a ação destrutiva que atualmente tem”, reforçou.

Para Ricardo Carvalhido o alcantilado de Montedor é “absolutamente especial” por integrar, por exemplo, um cordão dunar com mais de 70 mil anos, que resistiu à “fuga progressiva do mar”.

Ali, os visitantes poderão ainda “compreender como se formaram os montes que cercam a cidade, como o de Santa Luzia, em três fases, há 300 milhões de anos”.

“No norte de Portugal, é dos melhores locais para se perceber os quatro ciclos de subida e descida do nível do mar, nos últimos 400 mil anos”, observou, justificando a designação do alcantilado como cemitério das praias antigas.

Naquele monumento natural existe ainda, uma das 33 camboas existentes na costa de Viana do Castelo.

Antigas pesqueiras, “já descritas nas Inquirições 1258, desativadas durante o Estado Novo, por dificuldade de controlo da atividade económica que se gerava naquele espaço, mas também porque foi mais ou menos nessa altura que começaram a surgir as preocupações para as questões da conservação da natureza”.

“Eram zonas onde o peixe ficava retido e depois era pescado. É um património absolutamente fenomenal que nos faz recuar no tempo, e que do ponto da sua beleza é indescritível. Além de reforçar o caracter rochoso da costa, revela a forma engenhosa como, naquela altura, se construíram aqueles contrafortes, as paredes das camboas e que resistiram a milhares de milhões de praias-mar, momento em que há mais energia”, contou.

Todo o património existente nos 13 monumentos naturais está integrado em mesas de leitura de paisagem e, “em alguns locais especiais” foram instalados “pilaretes com código QR que permite fazer aceder a informação “detalhada” sobre a conservação realizada.

Fonte: Greensavers